O déficit de armazenagem de grãos no Brasil pode comprometer seriamente a cadeia produtiva nos próximos dez anos, segundo afirma o professor Thiago Guilherme Péra. Ele é coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da ESALQ/USP e conselheiro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS).
A produção nacional já ultrapassa 330 milhões de toneladas por ano, mas a capacidade de armazenamento está limitada a cerca de 60% desse volume, gerando um gargalo logístico preocupante. “Se a gente não fizer nada, daqui 10 anos o Brasil estará mais caótico do que é hoje. Vamos ter um déficit cada vez maior de infraestrutura, tanto de armazenagem quanto de ferrovia. A principal chave é o investimento. Precisamos desenvolver mais infraestrutura de armazenagem”, afirma.
No Mato Grosso, maior estado produtor, o cenário é ainda mais crítico. A expectativa é de que a safra de 2025 alcance 100 milhões de toneladas, mas a estrutura de armazenagem disponível comporta apenas 60% disso, deixando um déficit de 40 milhões de toneladas. Em diversas regiões, como Sinop, os grãos já são estocados a céu aberto, o que resulta em perdas físicas e redução da qualidade dos produtos.
Desde a ampliação da produção do milho segunda safra, o país passou a enfrentar sobrecarga nos armazéns, especialmente nos períodos de colheita entre março e julho. Além disso, a expansão do etanol de milho no Centro-Oeste pressiona ainda mais a infraestrutura, com parte significativa da capacidade de armazenagem sendo destinada à indústria.
“O pequeno e médio produtor muitas vezes não tem escala para ter um armazém. É fundamental que as cooperativas expandam seu parque de armazenagem, tendo acesso a linhas de crédito mais atrativas, como o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) do BNDES”, finaliza.