A chuva que caiu na Região Norte no início da semana trouxe alívio para os produtores de milho e evitou perdas mais severas. Porém, o calor intenso registrado no começo do mês deixou marcas em lavouras que entraram na fase de floração e espigamento, que dependem de umidade para se desenvolver.
Na medição feita pela Embrapa Trigo até a última quarta-feira (10), Passo Fundo registrou 71,1 milímetros de chuva — 66 somente nesta semana. A média para o mês de dezembro é de 162 milímetros.
Conforme o engenheiro agrônomo da Emater/RS-Ascar, Oriberto Adami, responsável pela área de culturas na região, o milho ocupa cerca de 70 mil hectares nos 42 municípios atendidos, o equivalente a cerca de 12% da área cultivada.
— O milho estava sob um estresse hídrico muito forte, principalmente na última semana. Se demorasse mais a chover, as perdas seriam mais acentuadas — avalia.
A precipitação chegou "atrasada", mas em um momento decisivo e deve limitar os danos à cultura. Ainda não há números consolidados, mas a estimativa preliminar é de redução de 10% a 15% na produção em algumas áreas.
— Na região, o potencial médio previsto de produtividade é em torno de 150 sacas por hectare, ou 9 mil quilos. Tem áreas que podem produzir até 200 sacas por hectare, mas a média é 150 — afirma Adami.
Chuva é essencial
Entre os municípios mais afetados com o calor está Casca, cidade de 9,6 mil habitantes no norte do Estado. Na propriedade de Fabio Cordazzo, as perdas devem ser significativas, uma vez que todo o milho foi plantado no início de setembro.
— Ficamos em torno de 20 dias sem chuva, esse calor excessivo mata o milho. Ainda não temos uma estimativa de perda, mas eu acredito que deve chegar em torno de 30% a 40% — conta.
Cordazzo chegou a ampliar a área de milho neste ano, passando de 25 para 60 hectares, atraído pela relação de preços em comparação à soja.
Apesar da diferença entre os municípios da região, Adami reforça que a chuva trouxe uma trégua importante tanto para o milho quanto para a soja, que está em fase de germinação e início do desenvolvimento vegetativo.
Entretanto, os próximos dias preocupam: as projeções indicam chuvas abaixo da média em dezembro e o milho seguirá dependente de novos volumes — de 30 a 40 milímetros a cada 10 dias — para manter o potencial produtivo.
— Para o momento, temos umidade suficiente por uma semana. Depois disso, precisaremos de nova chuva — pontua o engenheiro agrônomo.
A previsão, no entanto, é de que o padrão de precipitações menores continue ao longo do verão. Conforme análise do agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha, isso é reflexo direto do La Niña:
— Com a manutenção do La Niña até o final do verão, o sul do Brasil deve registrar chuvas abaixo ou próximas do normal do clima nas próximas semanas.
