Os Estados Unidos impuseram uma tarifa de 50% sobre as importações de café brasileiro, resultando em uma queda drástica de 79% nas exportações de cafés especiais em agosto, em comparação ao mesmo mês do ano anterior. A medida, que começou a vigorar há cerca de um mês e meio, está afetando diretamente o mercado, especialmente para grandes redes como a Starbucks, que utiliza o café brasileiro em até 60% de seus blends.
Vinicius Estrela, diretor-executivo da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), destacou que a tarifa não é a única razão para a queda nas exportações. Ele observou que, apesar dos estoques baixos nos EUA, os importadores estão adiando embarques e buscando alternativas de outros países, como Peru e Colômbia, que oferecem cafés com perfis sensoriais semelhantes. Contudo, a capacidade de substituição é limitada, já que a produção desses países não é suficiente para atender à demanda.
O Brasil deve produzir cerca de 55,2 milhões de sacas de café em 2023, mas as exportações entre janeiro e julho caíram 16,4% em relação ao ano anterior, com quase 2 milhões de sacas correspondendo a cafés especiais. Estrela alertou que a qualidade dos cafés brasileiros, que exige investimentos significativos em produção, pode ser comprometida se as tarifas continuarem, reduzindo o prêmio pago aos produtores.
Recentemente, o presidente Donald Trump assinou uma ordem que permite a exclusão de produtos não produzidos nos EUA, como café, da lista de tarifas. Embora isso não garanta a isenção automática do café brasileiro, abre uma possibilidade de negociação entre os governos dos dois países. A BSCA e outras entidades do setor estão trabalhando para sensibilizar as autoridades americanas sobre o impacto das tarifas nos preços ao consumidor, que já subiram 40% nos últimos 12 meses.
A expectativa é que, se as negociações forem bem-sucedidas, as exportações de café brasileiro possam se recuperar até o final do ano, quando a oferta de outras origens se tornar mais escassa. A situação atual, no entanto, representa um desafio significativo para a reputação do café especial brasileiro, construída ao longo de 30 anos.
